agosto 31, 2009

In Véritas III – Falha de memória no acervo da Ufes



A mostra “Esquerda Volver” aberta no Espaço Universitário e a minha dedicação a estes escritos de Histórias da Arte, me posicionam de forma objetiva quanto ao desaparecimento de minhas obras, que acredito, mereciam/deveriam fazer parte do acervo da Universidade Federal do Espírito Santo.

Quando do lançamento do catálogo documentando o acervo, importante iniciativa que destaquei em texto hiper carinhoso para o site TARU em de 2007, “Viagem Bacana”, [ http://www.taru.art.br/escritos/nenna/2007/0507.html ] já tinha detectado o problema, mas minimizei e preferi não abordar o assunto, que acreditava não ter muita importância. Não me interessa ficar apontando possíveis culpados, se é que existem. E se existem, já fazem parte de um passado quase distante.

Mas este novo fruto da importante série de releituras denominada “Olhar sobre o Acervo”, me fez acender a luz vermelha. Na mostra que aborda o período da ditadura - que tem curadoria de Celso Adolfo - fica claro o buraco na memória de nossa principal instituição acadêmica, já que os dois conjuntos de trabalhos que realizei dialogam com força sobre o tema e foram premiados em concurso dentro da universidade, por sinal os únicos que participei em toda minha carreira, já que não consigo aceitar, graças à subjetividade, julgamentos competitivos entre obras de arte.

O conflito público e notório entre minha produção na época e o ensino acadêmico rígido praticado no Centro de Artes podem ser a origem do problema, visto que meus trabalhos causavam incômodo ou piadas pré-modernistas. Mas os tempos são outros...

Ter recebido o premio principal nos dois concursos, causou espanto na época. O primeiro foi no “I Salão de Alunos e Ex-Alunos do Centro de Artes da Ufes”, em outubro de 1971, e o trabalho consistia na cópia xerox da ficha de inscrição, preenchida. Talvez seja o trabalho mais sofisticado que já realizei.

A ficha de inscrição, “enquadrada” rapidamente, pois não foram aceitas as cópias soltas... ficou durante muitos anos pendurada nas paredes do Diretório Acadêmico, recentemente andei procurando noticia e não cheguei a lugar nenhum. O júri corajoso que deu o premio principal ao trabalho: Maurício Salgueiro – principal defensor –, Maria Helena Lindenberg e Wallace Neves.

O outro prêmio foi no “Salão do Sesquicentenário”, em 1972. Aí já ficou um pouco mais complexa a relação com a censura da ditadura militar, sendo que para a participação foi necessário uma autorização do 38º BC do Exército, pois eu usava o símbolo nacional máximo. O que era proibido até em comemoração de futebol... Cheguei a ver um documento oficial, assinado por um tenente, atestando que os trabalhos não agrediam os símbolos.

Eram as bandeiras vazadas, “sem ordem nem progresso”, criadas em 1970 e também apresentadas em 1972 na mostra Duvideo-dó em coletiva com Sagrilo, Luisah e Luiz Calazans. E mais um puzzle com a mesma temática. Nunca mais tive notícias, apesar de – se é que a memória está correta – ter sido um prêmio de aquisição, portanto deveria estar no patrimônio da universidade.

Falha de memória.

[ilustrando: Detalhe de reconstrução da ficha “Inscrição” e “Bandeira”, papel recortado e espelho, 1972, acervo Hilal Sami Hilal]

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