agosto 18, 2009

A Vida na Provincia - I - Desconstruindo Taru


Sempre gostei das sutilezas da minha cidade/ilha. Deslizando entre a Vila Rubim e a Praia do Canto, com meninas bonitas, sol praiano ou vento sul de carinhos. Mas, também, sempre me incomodou o baixo conhecimento intelectual dos assuntos e prazeres artísticos...

Além de desenvolver meus projetos e desejos pessoais, até recentemente me dediquei com romantismo a iniciativas de ampliação desses conhecimentos e experiências na comunidade capixaba. Em agosto de 2007 tomei decisão de me dedicar exclusivamente a minha produção pessoal, visto que no ambiente atual não existe necessidade – ou não deveria existir – para empreendimentos amadores, como foram os meus até agora. Decididamente não sou, nem jamais desejei ser, um profissional da produção.

A lista de iniciativas viabilizadas é enorme. Vai desde a TVE que ‘inventei’ em 1976 [depois conto a história...] a publicações como o jornal ‘ar-TE’ de 1973 e da revista ‘Y’, na década de 90 e tantos outros eventos. Quando fui comunicar aos meus parceiros de aventura, como o Tinoco dos Anjos e a TVE, ele fez graça: “Trinta e cinco anos de luta, hora de aposentar...” Trinta e cinco anos escrevendo, produzindo, questionando e contribuindo para o coletivo.

Mas o motivo que pesou muito na decisão de abandonar a luta, foi o fato de na primeira edição do Prêmio Taru, em 2006, eu ter ficado em casa nervoso, travado e suando em baixo de um cobertor, porque tinha faltado 2 mil e quinhentos reais para pagar o cachê simbólico do grande músico e presidente do Museu Villa Lobos que tinha vindo apresentar em primeira audição a música “Seu Maurício” dedicada ao nosso maestro principal. A parceira da empreitada, Maria Helena Lindenberg, foi quem com tranqüilidade explicou ao Turíbio Santos o ridículo e alguns dias depois conseguimos depositar a grana, descolada pelo outro parceiro, Rômulo Musiello.

Para a edição seguinte do premio, em 2007, dedicado a Marien Calixte e a poetisa Maria Filina, apenas viabilizei os recursos – com muita, muita dificuldade – e o evento foi realizado com competência pelo Instituto Arte Pela Arte.

E finalmente, em 2008, já sem minha participação e com produção do já experiente IAPA, o prêmio não conseguiu decolar. Ficou parado na decisão da então sub-secretária da Secult, Ana Saiter, que após fazer considerações que considero equivocadas mas que não vale a pena comentar no momento, decidiu que não existia interesse na continuação do prêmio, mesmo depois de pedir um texto de justificativa, que redigi a pedido da produção. Foi meu texto despedida. Melancolicamente, não funcionou:


PREMIO TARU 2008
resumo histórico e conceitos

ORIGEM ROMÂNTICA

O Prêmio TARU nasceu do desejo romântico do artista Nenna, que percebendo o esquecimento - na mídia e instituições públicas de fomento cultural - da obra do grande nome da nossa música Maurício de Oliveira, propôs uma homenagem de qualidade impecável e importância histórica inquestionável para trazer de volta aos holofotes um ícone de nossa cultura regional, de importância universal.

Com cerimônia realizada em setembro de 2006, no Teatro Carlos Gomes lotado, participaram a Orquestra Filarmônica do ES e convidados, interpretando composições do homenageado. O violonista Turíbio Santos apresentou em primeira audição mundial a obra “Seu Maurício”, composta especialmente para o evento.


A RESPONSABILIDADE DE CONTINUAR

Passada a euforia e a comoção do evento, que certamente foi record de mídia espontânea graças ao carinho que o músico desfruta entre o povo do Espírito Santo, alguns artistas e amantes de nossa cultura regional insistiram na importância da continuidade do premio, para o fortalecimento e congraçamento de nossa produção.

A realização da segunda edição também foi gerida dentro de um ambiente de muitas dificuldades financeiras – para a dimensão da empreitada – e só com uma carga romântica muito forte e o compromisso dos envolvidos com a vida cultural capixaba, foi possível a realização, dentro de um mesmo nível de eficiência, da produção administrada pelo Instituto Arte Pela Arte, responsável pela segunda edição do evento.

Ampliou-se a abrangência, com a criação de duas categorias competitivas:

1. Taru-Gipakiú [ou da lua cheia, em vocábulo botocudo] para destaques institucionais.

2. Taru-him [ou da lua nova] para destacar novos talentos. Nesta categoria os vencedores ganharam espaço e outros incentivos para realizar eventos e publicações com o apoio da Secretaria de Cultura da Ufes.

Foi constituído um colégio eleitoral para premiar as categorias competitivas à partir de cinco áreas de abrangência [Arte Contemporânea, Áudio-visual, Literatura, Música e Teatro].

Os eleitores, lista anexada, foram escolhidos por notória participação na cultura produzida no Espírito Santo. A indicação do colégio eleitoral foi feita pela organização do premio após consulta aos parceiros na produção do evento: TV Educativa, Secretaria de Estado da Cultura, Secretaria Municipal de Cultura de Vitória e Universidade Federal do ES.

A informalidade e emoção vivenciadas na homenagem a Marien Calixte e Maria Filina Salles de Sá, no Teatro da Ufes, junto com a alegria das comemorações compartilhadas pelos premiados da noite, fortaleceram o conceito principal do evento, que se pretende mais de congraçamento e incentivo, do que de competição.


CONCEITOS PARA 2008

Para a edição de 2008, novamente administrada pelo Instituto Arte Pela Arte, pretende-se uma produção mais profissional que as anteriores pela importância e dimensão que o evento atingiu.

A escolha do homenageado se dará por consenso entre os organizadores do premio e os parceiros envolvidos.

As categorias competitivas foram ampliadas:

TARU-GIPAKIU [ou da lua cheia] – além de continuar premiando iniciativas institucionais de destaque, como a que no ano passado premiou Beatriz Lindenberg do Instituto Marlin Azul, o prêmio também será concedido a um artista de destaque no estado, em qualquer área de atuação.

E no TARU-HIM [ou da lua nova] – dedicado a novos talentos, será incluída a categoria Dança.

Outro aspecto que será melhorado é a sistematização completa dos regulamentos e normas das eleições nas categorias competitivas. A votação deverá ser feita com o uso de programas seguros de votação online com senhas individuais.

FINALMENTES

Hoje o Espírito Santo desfruta de emblemática transformação sócio-econômica de grande impacto em nossa cultura. É fundamental a criação de mecanismos culturais que acompanhem essas transformações não só pela estrutura oficial de promoção como por parcerias entre a sociedade civil e o estado.

Daí acreditarmos ser necessário, por estratégia política de fortalecimento, que o prêmio – pelo menos em seu estágio inicial – receba apoio das entidades públicas de fomento cultural.


INSTITUTO ARTE PELA ARTE
Comissão de Organização do Prêmio TARU 2008

[foto Maurício de Oliveira no Prêmio TARU: Ursula Dart]

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