agosto 17, 2009

Seja marginal, seja herói - I - Helio Oiticica


Conheci, pessoalmente, Helio Oiticica no verão do hemisfério norte, em 1973. Já conhecia sua obra desde o neoconcretismo, e junto com as Lígias, Pape e Clark eram o que me interessava na arte produzida no Brasil. No dia que cheguei em Nova York, com 21 anos, liguei e fui convidado a passar pelo loft que HO tinha na segunda avenida. Conversamos muito, muito, muito. Quatorze anos de diferença em nossas idades, me permitiu aproveitar ao máximo o aprendizado de choque que o Hélio me propôs e que funcionou no período que fiquei na cidade.

O esclarecimento de como funcionava o métier, teve início com o elogio que eu fiz de uma publicidade, de página inteira no Jornal do Brasil, da galeria Ralph Camargo que usava uma frase, acho que do Pollock – daquelas que hoje considero ridícula, mas que na época funcionava na minha percepção: A Arte está morta.

E foi me aplicando: “o Ralph é um ladrão, sumiu com alguns ‘metaesquemas’ e não quer me pagar”. Depois me alertou pra eu não mostrar nem comentar minhas idéias que o que mais existia era gente copiando [até hoje não valeu pra nada, continuo o mesmo... ] e sempre que possível eu passava por lá. Mas esse papo continua depois... vai ser inevitável durante o desenrolar deste projeto Histórias da Arte.

O lance que destaco agora, é a dificuldade e os cuidados ao abordar o tema da marginalia, drogas e sexo, que vou enfrentar no livro que escrevo. O Zuenir Ventura, por exemplo, acredita que o pior legado de 68 foram as drogas. Mas existem drogas e ‘drogas’... já que, pelo menos nos circuitos que freqüentei nos anos 70, as drogas tinham a sedução de ampliar a mente, a sensibilidade e os afetos. Nada parecido com nossa atualidade de crack e outras imundices.

Acredito que a solução passa pela transferência do problema para a saúde, tirando da esfera policial, onde predominam a promiscuidade, corrupção e violência...

De qualquer maneira não vou fugir ao tema: sexo, drogas e arte. Quero minhas histórias com transparência...

Foto de Helio Oiticica, no loft da Segunda Avenida, 1972, por Sagrilo. Em primeiro plano os ‘Ninhos’.

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