agosto 31, 2009

In Véritas III – Falha de memória no acervo da Ufes



A mostra “Esquerda Volver” aberta no Espaço Universitário e a minha dedicação a estes escritos de Histórias da Arte, me posicionam de forma objetiva quanto ao desaparecimento de minhas obras, que acredito, mereciam/deveriam fazer parte do acervo da Universidade Federal do Espírito Santo.

Quando do lançamento do catálogo documentando o acervo, importante iniciativa que destaquei em texto hiper carinhoso para o site TARU em de 2007, “Viagem Bacana”, [ http://www.taru.art.br/escritos/nenna/2007/0507.html ] já tinha detectado o problema, mas minimizei e preferi não abordar o assunto, que acreditava não ter muita importância. Não me interessa ficar apontando possíveis culpados, se é que existem. E se existem, já fazem parte de um passado quase distante.

Mas este novo fruto da importante série de releituras denominada “Olhar sobre o Acervo”, me fez acender a luz vermelha. Na mostra que aborda o período da ditadura - que tem curadoria de Celso Adolfo - fica claro o buraco na memória de nossa principal instituição acadêmica, já que os dois conjuntos de trabalhos que realizei dialogam com força sobre o tema e foram premiados em concurso dentro da universidade, por sinal os únicos que participei em toda minha carreira, já que não consigo aceitar, graças à subjetividade, julgamentos competitivos entre obras de arte.

O conflito público e notório entre minha produção na época e o ensino acadêmico rígido praticado no Centro de Artes podem ser a origem do problema, visto que meus trabalhos causavam incômodo ou piadas pré-modernistas. Mas os tempos são outros...

Ter recebido o premio principal nos dois concursos, causou espanto na época. O primeiro foi no “I Salão de Alunos e Ex-Alunos do Centro de Artes da Ufes”, em outubro de 1971, e o trabalho consistia na cópia xerox da ficha de inscrição, preenchida. Talvez seja o trabalho mais sofisticado que já realizei.

A ficha de inscrição, “enquadrada” rapidamente, pois não foram aceitas as cópias soltas... ficou durante muitos anos pendurada nas paredes do Diretório Acadêmico, recentemente andei procurando noticia e não cheguei a lugar nenhum. O júri corajoso que deu o premio principal ao trabalho: Maurício Salgueiro – principal defensor –, Maria Helena Lindenberg e Wallace Neves.

O outro prêmio foi no “Salão do Sesquicentenário”, em 1972. Aí já ficou um pouco mais complexa a relação com a censura da ditadura militar, sendo que para a participação foi necessário uma autorização do 38º BC do Exército, pois eu usava o símbolo nacional máximo. O que era proibido até em comemoração de futebol... Cheguei a ver um documento oficial, assinado por um tenente, atestando que os trabalhos não agrediam os símbolos.

Eram as bandeiras vazadas, “sem ordem nem progresso”, criadas em 1970 e também apresentadas em 1972 na mostra Duvideo-dó em coletiva com Sagrilo, Luisah e Luiz Calazans. E mais um puzzle com a mesma temática. Nunca mais tive notícias, apesar de – se é que a memória está correta – ter sido um prêmio de aquisição, portanto deveria estar no patrimônio da universidade.

Falha de memória.

[ilustrando: Detalhe de reconstrução da ficha “Inscrição” e “Bandeira”, papel recortado e espelho, 1972, acervo Hilal Sami Hilal]

agosto 28, 2009

Imagens Foto-gráficas


Algum tempo pós-Estilingue [não sei quanto tempo. os registros são imprecisos, mas em 71 provavelmente], fiz um pequeno happening na Aliance Française de Vitória. “Com cumplicidade de Sagrilo”, como estava escrito no cartaz com desenho de Luisah Dantas. Estou procurando uma cópia do cartaz...

A noitada incluiu projeção de slides [diapositivos fotográficos] de imagens do meu corpo, iluminado em vermelho e azul, além de música e cópias em papel de imagens fotográficas em alto contraste, solarizações e outras técnicas pré-digitais.

A nudez ainda funcionava com muito incômodo. Inclusive as fotos mais explícitas sumiram logo após as projeções. Estamos falando de uma época em que ações de nudismo [que aconteciam como desafio em diversas áreas, como capas de discos, etc] eram consideradas subversivas perante a censura da ditadura militar. Foi divertido.

[foto de Nenna por Sagrilo, 1971]

agosto 27, 2009

In Véritas II – Memorial do Estilingue




Fechando o ciclo Estilingue, pelo menos até a estréia do documentário, registramos a criação do memorial que marca o início das práticas contemporâneas na produção de arte em Vitória.

O primeiro a insistir na idéia foi o amigo e jornalista Rubinho Gomes, lá por 2005. Não levei muito a sério no início, por estar interessado em novas atividades, novos trabalhos e não em ficar revisitando o passado.

Mas durante as reuniões de produção do documentário [já em 2008], a diretora Ana Murta propôs a reconstrução do Estilingue Gigante, para acrescentar às imagens fotográficas originais de Sagrilo.

Pensei em transplantar a árvore, ou ‘o vegetal’ como estava identificada no laudo da Gerência de Áreas Verdes da Prefeitura de Vitória, para aproximar a árvore do mar [como originalmente] e o local escolhido foi a Praça do Papa. Mas o tal laudo foi contrario ao transplante.

Na reunião com a equipe da prefeitura, que incluía, entre outros, a gerente Érika e a sub-secretária de Gestão Urbana Clemir Meneghel, quando ficou claro a impossibilidade da ação, a arquiteta Angela Gomes sugeriu como solução a criação de um memorial. Como na idéia original do Rubinho, e propôs uma frase para ser registrada no granito.

Gostei muito do projeto e criei coragem para escrever a frase. Sim, é preciso coragem para escrever uma frase pública no granito. Não tem ‘control Z’. Depois de muito rabiscar liguei pro Agnaldo Farias, amigo recente, para checar o tamanho da pretensão. Ele aprovou bacana e está lá, no memorial ainda não inaugurado oficialmente:

O enigma sedutor da arte é a expansão da lógica das possibilidades para além do desconhecido”.

E vamos dar um tempo do Estilingue...

[na ilustração, coluna 'Entre Aspas' de A Gazeta, 15 março 2009]

agosto 25, 2009

Estilingue 2009 - Ursula Dart


Aqui cabe a frase feita: Sem ela não teríamos o documentário. Nos momentos de dúvida, praticamente radicalizou e exigiu o encaminhamento do projeto para a lei de incentivo. E ainda é craque nas imagens... Merci.

[Poladroid Nenna | imagem original Juju Alegro]

Estilingue 2009 - Rosana Paste


Conheci na época final do Balão Mágico [anos 80], depois Éden Dionisíaco... é uma das minhas paixões. Energia boa, de desafios e posicionamentos. Criadora do cenário bacana onde foram realizadas as entrevistas/depoimentos. Um luxo.

[Poladroid Nenna | imagem original Juju Alegro]

Estilingue 2009 - Rebecca de Sá Ferreira


Outra filhota bacana... e assistente competente, desde a eletro-pajelança Brasil que realizei na Galeria Homero Massena, em 2005. Reconstruiu o Estilingue para o doc. Também conheço desde antes nascer.

[Poladroid Nenna | imagem original Juju Alegro]

Estilingue 2009 - Lizandro Nunes


Percebi Lizandro nos anos 90 do século passado. Envolvido nas principais produções audiovisuais da terrinha, desde então. Nunca conversamos muito, mas nos encontramos rapidamente no set dos depoimentos, e certamente teremos uma edição bacana.

[a poladroid ficamos devendo, por enquanto. Ninguém, nem a produção nem a web me enviou uma imagem... mas eu pedi.]

Estilingue 2009 – Juranda Alegro e Gomes


Filhota bacana... produtora competente, muito querida e responsável pelo doc. Conheço desde antes nascer.

[Poladroid Nenna | imagem original Ursula Dart]

agosto 24, 2009

Estilingue 2009 - José Sarmento


Conheço tem tempo. Desde a primeira equipe da TVE que montei, que incluia Amylton de Almeida [pouquíssimo tempo... desistiu logo.], Edu Henning, Glória Musiello, Jairo de Brito, Joelson Fernandes... Depois o cara foi ser câmera em Nova York, no escritório da Globo. E acabou virando amigo de Pelé. Além de já ter adiantado meu lado em algumas edições de viagens artísticas...

[Poladroid Nenna | imagem original Juju Alegro]

Estilingue 2009 - Capilé Alex Sandro


Conheci na reconstrução do Estilingue. Senti firmeza na proteção das meninas [rsrsrs] e experiência quando pedi alguma coisa meio complicada naquele momento e ele respondeu: “Isso é ‘suave’!”. Gente boa e positiva no set.

[Poladroid Nenna imagem original Juju Alegro]

agosto 21, 2009

Estilingue 2009 - Ana Cristina Murta


Alguém ai tem uma diretora tão bonita? Duvido... Conheci tia Ana primeiro numa foto de Burura que publiquei no site TARU. Depois, além dos divertimentos e da linda matéria que fez para o Overmundo sobre minha produção em arte, elaboramos juntos o roteiro de apresentação dos dois prêmios TARU. Um luxo de parceria emocionante e emocionada. Em seguida embarcamos na aventura do documentário sobre o Estilingue...

Me impressiona a facilidade de compreensão sofisticada e livre em nossos diálogos sobre arte e possibilidades.

[Poladroid por Nenna com imagem original de Juju Alegro]

agosto 20, 2009

Estilingue 2009 - Alessandra Toledo


Alessandra conheci pela TVE, em entrevista no CurtaVídeo, falando sobre o curso que fez em Havana e sua participação em trabalhos locais. No set foi um doce de pessoa. E certamente uma competente profissional. Ainda não tomamos uma cerveja juntos, mas quem sabe, um dia...

[Poladroid de Nenna a partir de imagem de Juju Alegro]

Estilingue 2009 - A Equipe


Em processo de finalização, o documentário sobre o Estilingue e o início das práticas contemporâneas na produção de arte no ES foi construído por uma equipe predominantemente feminina e alguns meninos bacanas. Um luxo que deixo registrado, individualmente, nos próximos posts. Em tempo: não me deixaram ver uma única tomada. Faz sentido...

[foto Juju Alegro]

agosto 19, 2009

webARTE


A aldeia global McLuhaniana - ensaiada por Ulisses, Marco Pólo e Colombo pra ficar nos mais óbvios – se tornou realidade com a world wild web. A popular Internet.

Quando, em entrevista no ano 2000, perguntei ao Roberto Cordeiro, um dos pioneiros da web no ES, se houve uma ‘data histórica’ da primeira conexão, ele me respondeu:

- Não. Porque isso aí foi muito uma fase de testes. Na época quem tocava isso era o José Inácio Serafini. 92 pra 93. Não sei dizer a data precisa. Mas eu entrei na Ufes em setembro de 92, e comecei a me envolver com isso. Não lembro se a conexão saiu no início de 93 ou final de 92. Mas foi nessa época.

Já em 1995, as conexões vazaram do universo acadêmico para a iniciativa privada com o primeiro provedor de acesso, criado pelos gregos-capixabas Demétrius Vazeos, Alexandre Matarangas e Angelos Natsoulis, mais o capixabinha Carlos Alberto Ceotto que me convidou pra fazer parte da turma, cuidando da identidade visual da empresa pioneira: Tropical Net.

Estou online desde 1996. E já em 1998, tive a iniciativa de realizar a primeira mostra coletiva de arte produzida exclusivamente para a Internet, fato registrado por estudiosos como o professor Fábio Fon, da Usp:

“O site brasileiro "YwebArte", criação de 1998, que disponibiliza trabalhos de doze artistas capixabas, pode ser considerado um exemplo de importação de linguagens para a Web. Atualmente, "YwebArte" é uma das poucas mostras brasileiras de Web Arte na Internet".

Sempre disponível no endereço http://www.taru.art.br , a mostra reuniu, como registrado na foto de Roberto Burura: Gladys Raug, Nenna, Jana de Assis, Herbert Pablo, Flavio Sarcinelli, Jean R, Joel Vieira Jr, Sheila Mara, Edu Cozendey, Flavia Carvalhinho e Burura. Depois chegaram, nas edições de 2000 e 2005: Asdrúbal, Cinthia Zanotelli, Coletivo Maruípe, Julio Schmidt, Liza Tancredi, Maruzza Valdetaro, Mirabólica, Miro Soares, Lando, Ricardo Xoxolate, Roberto Banhos e Tânia Calazans.

agosto 18, 2009

A Vida na Provincia - I - Desconstruindo Taru


Sempre gostei das sutilezas da minha cidade/ilha. Deslizando entre a Vila Rubim e a Praia do Canto, com meninas bonitas, sol praiano ou vento sul de carinhos. Mas, também, sempre me incomodou o baixo conhecimento intelectual dos assuntos e prazeres artísticos...

Além de desenvolver meus projetos e desejos pessoais, até recentemente me dediquei com romantismo a iniciativas de ampliação desses conhecimentos e experiências na comunidade capixaba. Em agosto de 2007 tomei decisão de me dedicar exclusivamente a minha produção pessoal, visto que no ambiente atual não existe necessidade – ou não deveria existir – para empreendimentos amadores, como foram os meus até agora. Decididamente não sou, nem jamais desejei ser, um profissional da produção.

A lista de iniciativas viabilizadas é enorme. Vai desde a TVE que ‘inventei’ em 1976 [depois conto a história...] a publicações como o jornal ‘ar-TE’ de 1973 e da revista ‘Y’, na década de 90 e tantos outros eventos. Quando fui comunicar aos meus parceiros de aventura, como o Tinoco dos Anjos e a TVE, ele fez graça: “Trinta e cinco anos de luta, hora de aposentar...” Trinta e cinco anos escrevendo, produzindo, questionando e contribuindo para o coletivo.

Mas o motivo que pesou muito na decisão de abandonar a luta, foi o fato de na primeira edição do Prêmio Taru, em 2006, eu ter ficado em casa nervoso, travado e suando em baixo de um cobertor, porque tinha faltado 2 mil e quinhentos reais para pagar o cachê simbólico do grande músico e presidente do Museu Villa Lobos que tinha vindo apresentar em primeira audição a música “Seu Maurício” dedicada ao nosso maestro principal. A parceira da empreitada, Maria Helena Lindenberg, foi quem com tranqüilidade explicou ao Turíbio Santos o ridículo e alguns dias depois conseguimos depositar a grana, descolada pelo outro parceiro, Rômulo Musiello.

Para a edição seguinte do premio, em 2007, dedicado a Marien Calixte e a poetisa Maria Filina, apenas viabilizei os recursos – com muita, muita dificuldade – e o evento foi realizado com competência pelo Instituto Arte Pela Arte.

E finalmente, em 2008, já sem minha participação e com produção do já experiente IAPA, o prêmio não conseguiu decolar. Ficou parado na decisão da então sub-secretária da Secult, Ana Saiter, que após fazer considerações que considero equivocadas mas que não vale a pena comentar no momento, decidiu que não existia interesse na continuação do prêmio, mesmo depois de pedir um texto de justificativa, que redigi a pedido da produção. Foi meu texto despedida. Melancolicamente, não funcionou:


PREMIO TARU 2008
resumo histórico e conceitos

ORIGEM ROMÂNTICA

O Prêmio TARU nasceu do desejo romântico do artista Nenna, que percebendo o esquecimento - na mídia e instituições públicas de fomento cultural - da obra do grande nome da nossa música Maurício de Oliveira, propôs uma homenagem de qualidade impecável e importância histórica inquestionável para trazer de volta aos holofotes um ícone de nossa cultura regional, de importância universal.

Com cerimônia realizada em setembro de 2006, no Teatro Carlos Gomes lotado, participaram a Orquestra Filarmônica do ES e convidados, interpretando composições do homenageado. O violonista Turíbio Santos apresentou em primeira audição mundial a obra “Seu Maurício”, composta especialmente para o evento.


A RESPONSABILIDADE DE CONTINUAR

Passada a euforia e a comoção do evento, que certamente foi record de mídia espontânea graças ao carinho que o músico desfruta entre o povo do Espírito Santo, alguns artistas e amantes de nossa cultura regional insistiram na importância da continuidade do premio, para o fortalecimento e congraçamento de nossa produção.

A realização da segunda edição também foi gerida dentro de um ambiente de muitas dificuldades financeiras – para a dimensão da empreitada – e só com uma carga romântica muito forte e o compromisso dos envolvidos com a vida cultural capixaba, foi possível a realização, dentro de um mesmo nível de eficiência, da produção administrada pelo Instituto Arte Pela Arte, responsável pela segunda edição do evento.

Ampliou-se a abrangência, com a criação de duas categorias competitivas:

1. Taru-Gipakiú [ou da lua cheia, em vocábulo botocudo] para destaques institucionais.

2. Taru-him [ou da lua nova] para destacar novos talentos. Nesta categoria os vencedores ganharam espaço e outros incentivos para realizar eventos e publicações com o apoio da Secretaria de Cultura da Ufes.

Foi constituído um colégio eleitoral para premiar as categorias competitivas à partir de cinco áreas de abrangência [Arte Contemporânea, Áudio-visual, Literatura, Música e Teatro].

Os eleitores, lista anexada, foram escolhidos por notória participação na cultura produzida no Espírito Santo. A indicação do colégio eleitoral foi feita pela organização do premio após consulta aos parceiros na produção do evento: TV Educativa, Secretaria de Estado da Cultura, Secretaria Municipal de Cultura de Vitória e Universidade Federal do ES.

A informalidade e emoção vivenciadas na homenagem a Marien Calixte e Maria Filina Salles de Sá, no Teatro da Ufes, junto com a alegria das comemorações compartilhadas pelos premiados da noite, fortaleceram o conceito principal do evento, que se pretende mais de congraçamento e incentivo, do que de competição.


CONCEITOS PARA 2008

Para a edição de 2008, novamente administrada pelo Instituto Arte Pela Arte, pretende-se uma produção mais profissional que as anteriores pela importância e dimensão que o evento atingiu.

A escolha do homenageado se dará por consenso entre os organizadores do premio e os parceiros envolvidos.

As categorias competitivas foram ampliadas:

TARU-GIPAKIU [ou da lua cheia] – além de continuar premiando iniciativas institucionais de destaque, como a que no ano passado premiou Beatriz Lindenberg do Instituto Marlin Azul, o prêmio também será concedido a um artista de destaque no estado, em qualquer área de atuação.

E no TARU-HIM [ou da lua nova] – dedicado a novos talentos, será incluída a categoria Dança.

Outro aspecto que será melhorado é a sistematização completa dos regulamentos e normas das eleições nas categorias competitivas. A votação deverá ser feita com o uso de programas seguros de votação online com senhas individuais.

FINALMENTES

Hoje o Espírito Santo desfruta de emblemática transformação sócio-econômica de grande impacto em nossa cultura. É fundamental a criação de mecanismos culturais que acompanhem essas transformações não só pela estrutura oficial de promoção como por parcerias entre a sociedade civil e o estado.

Daí acreditarmos ser necessário, por estratégia política de fortalecimento, que o prêmio – pelo menos em seu estágio inicial – receba apoio das entidades públicas de fomento cultural.


INSTITUTO ARTE PELA ARTE
Comissão de Organização do Prêmio TARU 2008

[foto Maurício de Oliveira no Prêmio TARU: Ursula Dart]

agosto 17, 2009

Seja marginal, seja herói - I - Helio Oiticica


Conheci, pessoalmente, Helio Oiticica no verão do hemisfério norte, em 1973. Já conhecia sua obra desde o neoconcretismo, e junto com as Lígias, Pape e Clark eram o que me interessava na arte produzida no Brasil. No dia que cheguei em Nova York, com 21 anos, liguei e fui convidado a passar pelo loft que HO tinha na segunda avenida. Conversamos muito, muito, muito. Quatorze anos de diferença em nossas idades, me permitiu aproveitar ao máximo o aprendizado de choque que o Hélio me propôs e que funcionou no período que fiquei na cidade.

O esclarecimento de como funcionava o métier, teve início com o elogio que eu fiz de uma publicidade, de página inteira no Jornal do Brasil, da galeria Ralph Camargo que usava uma frase, acho que do Pollock – daquelas que hoje considero ridícula, mas que na época funcionava na minha percepção: A Arte está morta.

E foi me aplicando: “o Ralph é um ladrão, sumiu com alguns ‘metaesquemas’ e não quer me pagar”. Depois me alertou pra eu não mostrar nem comentar minhas idéias que o que mais existia era gente copiando [até hoje não valeu pra nada, continuo o mesmo... ] e sempre que possível eu passava por lá. Mas esse papo continua depois... vai ser inevitável durante o desenrolar deste projeto Histórias da Arte.

O lance que destaco agora, é a dificuldade e os cuidados ao abordar o tema da marginalia, drogas e sexo, que vou enfrentar no livro que escrevo. O Zuenir Ventura, por exemplo, acredita que o pior legado de 68 foram as drogas. Mas existem drogas e ‘drogas’... já que, pelo menos nos circuitos que freqüentei nos anos 70, as drogas tinham a sedução de ampliar a mente, a sensibilidade e os afetos. Nada parecido com nossa atualidade de crack e outras imundices.

Acredito que a solução passa pela transferência do problema para a saúde, tirando da esfera policial, onde predominam a promiscuidade, corrupção e violência...

De qualquer maneira não vou fugir ao tema: sexo, drogas e arte. Quero minhas histórias com transparência...

Foto de Helio Oiticica, no loft da Segunda Avenida, 1972, por Sagrilo. Em primeiro plano os ‘Ninhos’.

agosto 14, 2009

Vento Sul


Esta magia foi salva por Tadeu Teixeira, que guardou a única cópia de que tenho notícia no momento. Os negativos, ai os negativos... vai saber em qual goteira os perdi.

Inverno de 1970, pós estilingue, preparando o Festival de Guarapari e curtindo uma tarde psicodélica na deserta Praia de Camburi: Cristina Esteves, Mario Ruy, Marcos Moraes, Tadeu Teixeira, Flávio Spírito Santo, Aprígio Lyrio encoberto pelo braço de Rubinho Gomes, Nenna de costa, Pedro Sayad, Arlindo Castro de cachecol e Antonio Alaerte, no alto. Existe uma outra imagem, da mesma cena, com o mesmo enquadramento, que evaporou... fiz a foto no automático, claro.

agosto 11, 2009

Umbigo I - Maurício de Oliveira


Um final de tarde preguiçoso... o maestro Maurício de Oliveira me liga por telefone e diz: "Escuta aí..."

Esperando mais um prelúdio do Villa, luxo eventual de outras tardes, escuto atento e não reconheço a música. Comento: "Parece coisa do Pixinguinha com o Villa..." Ele rí e pergunta: "Sabe como é o nome?" e completa "Meu amigo Nenna"... Em lágrimas não tenho como agradecer.

Depois me dou conta, que além das composições pros familiares, só os heróis Caboclo Bernardo e Chico Prego foram merecedores. Como não sou herói nem nada, acho que entrei pra família...

No vídeo abaixo, final do especial da TVE sobre o Prêmio Taru, está a versão da melodia apresentada pelo querido Afonso Abreu Trio.



agosto 09, 2009

In Véritas I - 70s



Durante o evento 70s, não tive oportunidade de declarar a origem da idéia de adesivar as paredes externas do Centro de Vivência da Ufes com as imagens de época: Rosaninha Paste !

[tem vídeo do evento no site: www.nenna.com
foto evento: Nenna
foto Rosana: Juju Alegro]

agosto 06, 2009

Rubens Câmara Gomes


Rubinho é a melhor memória, com detalhes, sobre o período. É quase inacreditável o volume de informações precisas que ele tem, certamente hábito desenvolvido na profissão que até hoje o véio mantém...

Amigo de sempre, participamos dos movimentos de contracultura não só no ES como no Rio, editando em 1972 o jornal Presença que tinha entre os participantes Hélio Oiticica e Torquato Neto. Outro momento importante foi o festival de verão de Guarapari, evento de muita coragem no ambiente repressivo da ditadura militar, realizado no verão de 71, alguns meses após o estilingue. O ingresso do evento teve o meu design em que utilizei um desenho da amiga Luisah.

Ele vai ter muita coisa pra dizer, delineando um panorama completo, já que realizou os principais produções da época, envolvendo música, teatro, jornalismo... mas se der, pede pra ele cantar uma musica do Américo Rosa [cantor de rua, personagem da época...] que diz na letra, entre outras coisas:

Comendo as ervas,
Oh mulher, comigo não
Eu não me encanto [ou engano, sei lá...]
Nem me faço de limão

Eu sou do amor
Eu sou da flor

Benzinho,
Que de prata ando mal,
Mas sou gostoso demais...

[texto informal escrito a pedido de Ana Murta, para ajudar no encaminhamento dos depoimentos. foto Juju Alegro]

Marcos Moraes


É da mesma época do Sagrilo. Adolescência e juventude. Filho da pintora Wanda Moraes, sua casa era uma espécie de usina cultural adolescente onde ouvíamos e discutíamos música e arte sempre. Família de músicos competentes, como a mãe e o irmão José Renato e do poeta Tércio Moraes.

A escada que aparece na foto do estilingue foi emprestada por dona Wanda, me lembraram outro dia. Marcos hoje é professor de música na Ufes, vejo de vez em quando, e continua um cara amigo apesar de nos encontrarmos pouco. Outro dia ele me contou um encontro com Tom Jobim, num dia que ele almoçava com o maestro Radamés Gnatalli.

Sempre conversamos muito sobre arte... ele talvez tenha a melhor memória do que foi a madrugada de confecção do estilingue. Mas fala pouco, quase monossilábico...

[texto informal escrito a pedido de Ana Murta, para ajudar no encaminhamento dos depoimentos. foto Juju Alegro]

Luiz Tadeu Teixeira


Conheci Tadeu, quando ele chegava em Vitória, com cinema e jornalismo na cabeça.

Além do Arlindo, foi o único a escrever texto jornalístico sobre o estilingue em sua época. Também tivemos diversas parcerias: ficamos em cana com outros amigos, por uns três dias, no Rio de Janeiro acho que no final de 1971, por denuncia de maconha. Parece que quem tirou a gente foi o senador João Calmon. Fiz o cartaz da peça Antígona montada nos anos 70. Tadeu fez a leitura de um poema de Carmélia pro vídeo apresentado em 1979 na mostra Taru, na Galeria Homero Massena. Primeira vez que se usou vídeo em mostra de arte no estado. Ajudei a telecinar Ponto e Vírgula, etc... deve ter mais coisa.

Tadeu você conhece. Tem melhorado muito... hehehe. Adoro Tadeu e sua capacidade de insistir em ser mau humorado, mesmo quando o momento é bacana. Viva Tadeu !

Pelos últimos diálogos via mail, talvez ele seja um bom ‘descrevedor’ do ambiente cultural/intelectual da época. Mas cuidado que ele vai contar toda a histórica do teatro capixaba... brincadeira.

[texto informal escrito a pedido de Ana Murta, para ajudar no encaminhamento dos depoimentos. foto Juju Alegro]

Luizah Dantas


Antes de conhecê-la já me interessava pela beleza da moça, recém chegada do Rio e moderníssima... É amiga desde sempre. Raro diálogo intelectual feminino, na época. Não único, mas raro. Na Ufes, éramos possivelmente os mais vanguardistas em comportamento, numa escola anacrônica.

Decoradora destacada, estética sofisticada, sempre dialogamos sobre a arte e suas possibilidades de interação com outras mídias. Luizah fez cenários de teatro, etc... Com uma erudição semelhante ao Sagrilo, vai ser capaz de trazer o ambiente do centro de artes e dos intelectuais da época numa visão pessoal sofisticada. E talvez contar algum causo.

[texto informal escrito a pedido de Ana Murta, para ajudar no encaminhamento dos depoimentos. em tempo: esqueci de dizer que fizemos uma mostra juntos em 72: eu, ela, Sagrilo e Luiz Calazans. foto Juju Alegro]

Jorge Luiz Sagrilo


Conheci Sagrilo, nem me lembro quando. Presenciei o início do seu desejo de dedicação a fotografia. Ajudei a pintar um velho e enferrujado ampliador, de onde saíram as primeiras cópias das fotos do estilingue. Muita intimidade amiga e os melhores papos intelectuais: adolescentes conversando sobre Duchamp, Cartier-Bresson, John Cage, The Cream, Oiticica, Warhol...

Logo após o Estilingue, fiz uma mostra na Aliança Francesa, chamada ‘Imagens Foto-gráficas’, que no cartaz desenhado por Luizah tinha o crédito ‘com cumplicidade de Sagrilo’.

Em 72 Sagrilo vai para Nova Iorque, pra morar com uma irmã, e leva uma carta minha para o Helio Oiticica. Acabaram amigos, ligados pela fotografia... e depois o Sagrilo vai comprar na Factory, que funcionava num pequeno prédio, umas edições do jornal Interview que eu tinha encomendado. Warhol abre a porta do elevador...

Continuamos muito muito amigos. Até recentemente ele me ligava sempre no dia do aniversário... depois cansou, já que a bagunça da minha vida não permitia lembrar sempre de retribuir, mas ele me contou que Dona Maria, a mãe, perguntou por mim recentemente... ou seja: é quase, ou melhor que um irmão.

Intelectual sofisticado, profissional competentíssimo, sem afetação... poderá falar com propriedade, de nossos sonhos adolescentes e da realidade atual.

[texto informal escrito a pedido de Ana Murta, para ajudar no encaminhamento dos depoimentos. corrigindo: este ano Sagrilo ligou !!! agora vou ligar sempre... foto Juju Alegro]

Hilal Sami Hilal


Amigo desde a adolescência, compartilhamos sonhos na arte, jogamos muito futebol regados a cervejas e outras ondas. Muita praia, Itaúnas, etc... fizemos juntos o pré-vestibular para arquitetura, para um curso na Ufes que não foi implantado. Acabei entrando no Centro de Artes... lugar de “esperar marido”. No ano seguinte chegaram Hilal e Vilar.

Tivemos uma relação familiar muita próxima, a mãe, dona Adélia, além de pintora, era um luxo de carinho e comidas árabes deliciosas. Ajudei muito na “curadoria” das primeiras mostras e a recíproca idem.

No final dos anos 80 nos distanciamos. Eu radicalizando nos conceitos e anarquia, enquanto o bom amigo seguia levando adiante seus sonhos e cuidando da família. Os reencontros recentes tem sido de muito carinho e boas surpresas quanto aos conceitos atuais na relação com a arte que produzimos.

[texto informal escrito a pedido de Ana Murta, para ajudar no encaminhamento dos depoimentos. foto Juju Alegro]

Almerinda da Silva Lopes


Conheci a professora, pesquisadora e historiadora da Ufes em 2004, quando a presenteei com uma edição da Bíblia, lançada no ano anterior. Depois ela me confessou que já tinha curiosidade sobre a minha obra, mas que tinha sido induzida a não dar crédito... ou seja: a popular ‘maldição’.

Daí nasceu o texto [que vc já tem...] que coloca o estilingue, isoladamente, como o ponto inicial de utilização das linguagens contemporâneas na arte produzida no estado.

Almerinda e Maria Helena Lindenberg, foram, nestes anos recentes, as principais fortalecedoras de minha ‘reintrodução’ pública no métier da arte contemporânea, de onde, na verdade, nunca me ausentei...

Almerinda está organizando a historia da arte capixaba. Com a vantagem de ter uma visão distanciada, acadêmica, e dedicada aos nossos assuntos ainda pouco documentados.

Ela percebeu com eficiência a minha luta: “Ao equacionar que a praxe artística local deveria saltar de uma polaridade a outra, isto é, abandonar os conceitos conservadores e passadistas para cotejar as linguagens contemporâneas, sem sequer passar pela via retrospectiva do modernismo, o artista abria uma lacuna abissal (ou uma dicotomia?) no processo de formação da mentalidade artística capixaba”.

Almerinda tem a capacidade e o conhecimento [doutora em historia da arte pela Sorbone] para fazer uma colocação sensata da obra naquele momento histórico de 1970. Numa perspectiva local, nacional e internacional.

[texto informal escrito a pedido de Ana Murta, para ajudar no encaminhamento dos depoimentos. em tempo: a Bíblia citada é o livro que reúne meus trabalhos do período 1970/2001 - foto Juju Alegro]

agosto 05, 2009

Cosa Mentale



Ganhei algumas imagens das gravações do documentário sobre o Estilingue Gigante, atualmente em fase de edição. E vou aproveitar para agradecer aqui aos amigos que fizerem a gentileza dos depoimentos [a produção não me mostrou as falas, se fiquei mal, eu pego depois...]: Almerinda Lopes, Hilal, Jorge Sagrilo, Luisah Dantas, Marcos Moraes, Rubinho Gomes e Tadeu Teixeira. Nos próximos dias, vou postar fotos - todas por Juju Alegro - e os comentários bem humorados que fiz sobre cada um para orientar a diretora Ana. Hummmm?

Na foto de hoje, vai a equipe bacana das meninas + Capilé, no set de depoimentos, registrando Luisah.

agosto 04, 2009

Estilingue 2009


Minha assistente e filha, Rebecca Sá, se diverte com a reconstrução que fez do Estilingue Gigante para as filmagens do documentário dirigido por Ana Murta e que tem na equipe Ursula Dart [fotografia], Rosana Paste [direção de arte], Alessandra Toledo [som] e minha outra filha Juranda Alegro, produzindo. Lizandro Nunes, bendito fruto, faz a edição. Estou adoooraaannndo... [foto juju alegro]

Oceano Paulistano

Memórias do futuro, em A Gazeta, março 2009:

agosto 02, 2009

Histórias da Arte

entre a academia e a boemia, vestígios de mergulhos no universo amplo da arte contemporânea