janeiro 12, 2010

Tropicasso e censura


No final dos anos 70 a censura da ditadura militar brasileira era uma verdadeira piada, de péssimo gosto.

Em 1979 fui convidado a participar de uma mostra itinerante de artistas capixabas promovida pela Fundação Cultural [hoje Secretaria de Cultura], que começaria por Brasília. Na mesma época os desenhos eróticos de Picasso tinham sido proibidos de serem editados no Brasil, com repercussão internacional e reação em um abaixo assinado [iniciativa do meu amigo Jorge Mourão, em NY] com texto escrito por Allen Ginsberg que terminava dizendo algo parecido com “quando as paredes das galerias ficam nuas os muros das prisões mostram sua violência” e assinado por, entre outros, Miles Davis, Andy Warhol, Yoko Ono e John Lennon, Helio Oiticica...

Resolvi implicar. Escolhi três desenhos da série proibida e mixei com a gravura Triste Trópico, de 1975. Em Brasília passou despercebida, talvez por ser uma mostra ‘chapa branca’ de um estado de pouca significância.

Já tinha esquecido o assunto quando li um texto do professor Renato Pacheco no jornal ‘O Diário’ me defendendo da agressão recebida em Belém, noticiada no dia anterior no jornal ‘O Globo’, do Rio de Janeiro. O mitológico jornal capixaba fechou a redação e acabei não guardando o texto, que hoje deve estar entre os documentos deixados pelo escritor, juiz e folclorista capixaba.

Mas a notícia de O Globo sobreviveu:

“O secretário de Cultura do Pará, Olavo Lira Maia, mandou retirar da exposição que se realiza no Teatro da Paz, em Belém, algumas gravuras do pintor capixaba Atílio Gomes/Nenna, por considerá-las obscenas. A retirada dos quadros apressou o encerramento da mostra de arte, sob alguns protestos dos 22 artistas expositores e do público. [...]”

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