janeiro 22, 2010

Tempo | Taru


Finalmente um ‘cubo branco’. Ainda precário, em termos de iluminação e equipamentos, mas finalmente a província capixaba – sinal dos novos tempos de industrialização tardia – tem sua galeria de arte, batizada ‘Centro de Artes Homero Massena’.

Em 1979, planejei a mostra Taru [vocábulo botocudo que significa Tempo] como uma ‘retrospectiva em desenvolvimento’. Como novidade tecnológica aparecia o vídeo pela primeira vez, além do reaproveitamento dos embrulhos transparentes mostrados no MAM-Rio.


O vídeo, desaparecido, foi captado primeiro em película 16mm com fotografia de Jonas Conti e mostrava um ambiente caseiro com pinturas, gravuras, livros, discos, violão... sonorizado com os tambores guerreiros do Burundi e um poema de Carmélia Maria de Souza, interpretado por Tadeu Teixeira:

“De repente eu voltei aos meus cigarros
Eu comecei a futucar um punhado de livros
Eu remexi uma porção de jornais velhos e de velhas lembranças
E não demorou muito, eu já estava com todos os sintomas
De uma ameaçadora fossa agressiva. Das mais terríveis.
Dessas assim que obrigam a gente a jogar tudo pra cima,
Dar com a cabeça na parede, comer pedaços de estante,
E engulir todas as coisas que for encontrando pela frente,
Sem sequer ter o cuidado de mastigar.

Eu sinto que é preciso fazer alguma coisa,
Cantar, uivar, telefonar, providenciar enfim,
Que desgraça pouca é bobagem.

Não fazer nada é o mesmo que contribuir para a impressão idiota
De que essa vida é sem expressão.

Mas eu não vou ficar aqui, entregue às baratas, enquanto eu sei que a noite é grande. E a baderna é igualmente grande lá fora.

Eu resolvi, pois,
Conversar com você.”

A edição final – em moviola - foi feita em Paris, com Marinho Celestino, na Université de Vincennes, em maio de 78, quando a cidade comemorava os dez anos do outro maio. Depois transcrito para vídeo no formato U-Matic.

Nos embrulhos transparentes [com desenhos, textos, fotos antigas, polaroids...] um pouco do percurso que seguia por uma tentativa de novos caminhos... de terminar um ciclo.

A anistia próxima, e a pós-modernidade se insinuando no horizonte. Ponto final da ‘resistência psicodélica’.

[Fotos: Carlito Medeiros/A Gazeta]

2 comentários:

  1. Parabéns, Nena!
    Muito legal seu blog!
    E que poema avassalador esse da Carmélia Maria de Souza! Valeu o registro. Procurei no Google por ela e não tem quase nada.
    abraço

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  2. Q LEGAL TE VER AQ BJS ELZA

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