janeiro 12, 2010

‘Muito Prazer’ no MAM carioca


O telefone toca. Por sorte estou em casa, já que em 1975 não existia celular... Do outro lado, a professora Stela Denardi me avisa que o crítico de arte do Caderno B do Jornal do Brasil [principal referência da mídia cultural na época] e curador do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro estava naquele momento no Centro de Artes da UFES, após visitar ateliês dos principais artistas locais selecionando possíveis participantes para uma grande mostra nacional que pretendia mapear os principais artistas em atividade na primeira metade da década.

Tinham me ‘esquecido’... [na verdade, maldição pura!]

O crítico era Roberto Pontual, o mais destacado e influente estudioso da arte brasileira naquele período. Quando cheguei, ele já estava saindo para o aeroporto, olhou rápido um pequeno portifólio e me convidou para acompanhá-lo porque gostaria de terminar a conversa sem perder o vôo. Tinha ficado curioso. Conversamos, ele embarcou e algum tempo depois a lista de convidados me incluía como único representante:

“Para alcançar e manter um mínimo de homogeneidade qualitativa no conjunto da mostra Arte Agora I / Brasil, 70-75, as minhas indicações de artistas fora do Rio de Janeiro, na área que me coube relatar como membro da Comissão Coordenadora, (além do Rio, o Espírito Santo, Bahia, Sergipe e Alagoas), restringiram-se a três nomes: os do Mario Cravo Neto e Bené Fonteles, em Salvador, e o de Atilio Gomes/Nenna, em Vitória.

Todos os três desenvolvem já há algum tempo trabalho que se caracteriza basicamente pela absorção da atualidade, sem o abandono, no entanto, da investigação de particulares que definiram a sua circunstância local. Estão em dia com as linguagens de hoje, e as praticam sem provincianismo, de igual para igual com os seus colegas dos centros ditos hegemônicos da arte brasileira atual. Visitam e habitam com regularidade esses centros, ou até o exterior, mas, como vem acontecendo entre nós felizmente com maior frequência, retornam sempre às cidades-bases, onde tem raízes crescentes de origem ou opção. [...]”
Roberto Pontual - Jornal do Brasil, 1976








Preparei duas esculturas de vidro, os ‘embrulhos transparentes’, com os textos minimalistas: ‘Muito Prazer’ e ‘E Agora?’ Despachei pro MAM e fui montar meu ambiente com a ajuda dos amigos Hilal e Beto Barradas. Originalmente os embrulhos seriam colocados sobre cubos de madeira, mas numa visita ao escultor Maurício Salgueiro ele reclamou que eles [os escultores...] haviam lutado tanto para destruir as ‘bases’ e me provocou para chegar a outra solução.

Linkei com o fato de na manufatura do vidro entrar areia como matéria prima e imediatamente o impacto estético que as dunas de Itaúnas havia me causado recentemente completou a viajem...

Muito Prazer! E agora?

[fotos Nenna - foto de Nenna e Hilal com saco de areia por Beto Barradas]

Nenhum comentário:

Postar um comentário