outubro 02, 2009

Cine Vento Sul


No início dos anos 70 não se fazia cinema em Vitória. O ciclo dos anos 60 tinha terminado e a ditadura militar intimidava as iniciativas. Na adolescência tinha visto o curta “Kaput” de Paulo Torre, numa projeção improvisada, que me influenciou muito na opção pelos caminhos da arte.

Ainda sonhando com câmeras de vídeo, inacessíveis na província...

Creio que em 72, o amigo Beto Barradas, da família Monjardim, que morava no Rio e passava as férias em Vitória, apareceu com uma ‘filmadora’ 8mm, antecessora do super-8, e resolvemos produzir uns ensaios interessantes, em meia dúzia de filmes de pequena duração.

Entre eles o que mais gosto foi o “Mao Boba” [Mao, como Mao-Tsé-Tung] de Sagrilo com um roteiro meio nonsense em que uma mão saia pela porta semi-aberta de uma geladeira, etc... tudo em três minutos. É um trabalho que já mostrava os cuidados estéticos do promissor fotógrafo.

Eu realizei um estudo com os fotógrafos lambe-lambe do Parque Moscoso e ainda um curta filmado em Carapebus com Jorge Lessa e Ronaldo Barbosa, nus, com imagens frontais inclusive, em que coreografavam um duelo com armas invisíveis.

Na virada do século uma equipe do Itaú Cultural andou nos procurando e ninguém sabia das cópias. Até hoje...

Mas pelo menos o meu bang-bang parece que sobreviveu. Em 2003 quando a produção de imagens da minha Bíblia procurou Ronaldo para reproduzir um dos desenhos da série Noturnos, ele me avisou que estava com a cópia do filme. Quem sabe um dia possamos rever o pessoal na beleza dos vinte anos.

E em 1991, recuperei o filme Kaput, com a colaboração do cineclubista Marcos Valério. Telecinamos no Rio direto dos negativos que tinham sobrevivido, recuperamos o áudio [composto apenas de músicas e ruídos] e produzimos cópias em vídeo. E viva Paulo Torre!

[Na ilustração a capa do VHS com o filme Kaput, recuperado]

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